Revmo Pe. Jacques Michel
"E a polêmica? Não se quer mais. Sabe-se que, há uns decênios, se pretende bani-la das nossas discussões, das nossas conversas, da imprensa católica, das pregações e do ensino. É uma forma mais espiritual, mais elaborada de "pacifismo".
Não mais polêmica, portanto. E pobre daquele que (ao dizê-lo) pensa diversamente.
Dizem: "Podeis exprimir um parecer qualquer, mas nada de polêmica!" Repetem: "Podeis externar um parecer diverso, mas sem polêmica!" Tornam a dizer: "Podeis procurar apresentar um outro ponto de vista, mas não com a polêmica!"
Que coisa é, então, a polêmica?
Ninguém sabe dizê-lo. Talvez ninguém o saiba. O que se sabe, o que querem dizer é que não se deve fazer polêmica. E é muito cômodo, assim se nos permite, como já se permite há bastante tempo, matar sem receber golpes, sufocar as almas no erro sem as fazer gritar. Foi-lhes dito: "Nada de polêmica... defendei-vos, mas não golpeeis, não griteis, não vos movais e, sobretudo, nada de armas: nada de polêmica."
E pensar que, depois da verdade, a polêmica é a coisa mais bela do mundo. É uma luta espiritual contra o erro e a mentira, somente com as armas do espírito no dom inteiro de si mesmo... Combater pela verdade com toda a alma.
Jesus se encarnou para inaugurar a polêmica cristã contra o mundo e o demônio.
São Paulo, patrono dos polemistas... "argúi, obsecra, increpa"... "refuta, suplica, admoesta", "combati o bom combate".
"Mas a polêmica divide as almas". Não, senhor! Pois não é o combate que divide, mas o erro. E se não estivessem já divididos, não se combateria. E quando se está dividido, nada resta senão combater... ou fingir estar de acordo... salvo se se golpeia na primeira ocasião... sem polêmica.
Enfim, a polêmica é o único modo para compreender onde está a divisão, entre quem e por que motivo existe. A luta aberta e leal vale muito mais do que a subversão. São tantos, em nossos tempos, os que gritam pela paz e contra a guerra e que não cessaram de sublevar uns contra os outros, todos os seres humanos da terra... Não querem a guerra, mas fazem revolução. Não querem que se combata pelas idéias, mas querem suprimir tudo e todos os que (tão timidamente, é verdade) se opõem à sua ideologia: abatamos tudo, mas nada de guerra!
E as "boas almas", às quais se ensinou a respeitar as formas, repetem sempre "basta com a guerra" até que não morram eles e os seus filhos. "Mas nós, os cristãos, não temos inimigos."
Mas então, por que Jesus nos exige que amemos os inimigos? E por que nos predisse que o mundo inteiro se desencadearia contra nós? Mas devemos convencer o inimigo com a doçura e a paciência...
É verdade. E é a tal ponto verdade que o próprio Jesus chamou bem-aventurados os mansos, dizendo que haveriam de possuir a terra. Mas de que doçura falava Ele? Logo depois disse: "Vós sois o sal da terra." [39], da terra que é prometida aos mansos. Prova que sal e doçura vão muito bem juntos e que a mansidão cristã nada perde com um pouco de sal...
Quando expulsa os vendilhões do Templo e os fariseus, Jesus usa ainda de doçura, mas aquela doçura salgada que conserva os bons, tratando os outros como se deve. Na Sagrada Escritura, lê-se de Moisés que não houve um homem manso como ele: "Erat Moyses vir mitissimus super omnes homines qui morabantur in terra" [40]. É para considerar atentamente... talvez não seja tão adocicado o conceito que a Vulgata exprimiu com a palavra "mansidão".
Existe uma mansidão convincente e forte, que está muito de acordo com a polêmica. Pode-se combater muito bem um inimigo falso e implacável com as armas de uma impiedosa mansidão. Tudo consiste em não atribuir às palavras mais (ou menos) do que elas querem dizer" [41].
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